quarta-feira, 16 de março de 2011

As maroscas activistas

Foi José Manuel Pureza do BE que insistiu em atacar o PSD, representado por Miguel Macedo, dizendo não acreditar nas boas intenções de um partido que reparte com o PS as prerrogativas e benesses das suas maiorias, pese embora os trejeitos arrumados de uma seriedade ponderosa do seu chefe orador – Passos Coelho. Já o deputado do CDS, Pedro Mota Soares, expusera com rigor e sabedoria, como sempre se encontrou no CDS, já Francisco Assis dissertara, inteligentemente, desvendando, no principal opositor, uma responsabilidade provocadora de desgraça nacional, caso resolvesse contrariar as medidas do PM na imposição dos sucessivos PECs – do próximo já – já, enfim, Bernardino Soares, do PC, atacara como sempre. Tudo isso no “Prós e Contras” de segunda-feira, que Fátima Campos Ferreira dirigiu.
Contei ao meu marido as minhas razões de enfastiamento contra o Pureza, que repete, qual disco rachado, as suas ironias contra o PSD, sem estar ali senão para isso - para atacar as vilanias do PS e PSD, que se vilipendiam à frente das câmaras e por trás se dão palmadinhas nas costas. Não, ninguém tenta, realmente, um esforço de salvação nacional, que a ninguém, pelos vistos, interessa - CDS à parte, alguns do PSD também, amando esta terra e este povo, que, ingratamente, os despreza, neles vendo apenas o espelho de um passado odioso, e por isso desde sempre distribuindo pelos outros os votos e as responsabilidades da ruína.
O meu marido, contudo, que nunca foi do BE, deu suavemente razão ao Pureza, e mesmo ao do PC, considerando quanto, de facto, sempre assim fora, já no seu Serviço assim era, assim continuaria a ser, enquanto reinasse entre nós aquela política que, aparentemente partindo do povo, era, na realidade, uma democracia talhada por elites que, comendo a polpa, atiravam os caroços para o tal povo, assim cumprindo os objectivos que pretendera construir numa revolução benfazeja desse mesmo povo.
De facto, no seu Serviço, a que concorrera em 75, com boa classificação entre os milhares de concorrentes, chegados das hordas ultramarinas, ele observara, até à sua reforma, a larga estrada dos protegidos, do PSD ou do PS, dividindo-se cargos, colocando os amigos e os familiares, protegendo-se, distribuindo-se, animando-se, amando-se, impedindo futuros concursos, no país que ficou a saque desde então.
Mas eu lembrei que, também nesses tempos gloriosos, no viaduto das minhas experiências, quem não fosse adepto das esquerdas estava arrumado, pelo menos nos de cá debaixo, das esferas inferiores, pois os governantes do nosso rotativismo, a par das políticas económicas, educativas, de saúde, etc, que, bem ou mal, tinham necessariamente que implementar com os dinheiros das ajudas externas, a quem tinham que prestar algumas contas justificativas dos seus gastos, foram também usando esses auxílios em proveito próprio e dos seus boys.
Tinham razão o BE e o PC em acusar essas maroscas dos partidos maioritários. Mas faziam-no porque cientes das suas próprias maroscas, impeditivas de bem governar, eles próprios manipulando o povo da sua democracia, lembrando a greve, o desalinho, a não obediência a normas, num país de um povo mal esclarecido sempre e sem desejo de o ser bem nunca.

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