sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Vanitas vanitatum

Foi La Fontaine um artista
Fabulista
Que por meio de uma fábula
Sobre díspares grandezas
Pretendeu demonstrar
Que os Franceses
Em vaidade são superiores
Aos outros povos.
Fala nos Espanhóis,
Esquece os Ingleses
Ignora os Portugueses
Que me parece,
Nem sequer conhece,
Mas não é por mal.
E, afinal,
É mais que sabido,
As vaidades
São comuns ao mundo
Desde o tempo antigo,
Não há que estranhar.
Vejamos, então,
A demonstração:

«O Rato e o Elefante»
“É extremamente comum em França
Julgar-se a gente
Personagem proeminente.
Lá se faz, frequentemente,
O homem de importância
Que, muita vez,
Não passa de um burguês.
É isto, especificamente,
Um mal francês:
A tola vaidade é-nos peculiar.
Vãos são os Espanhóis também,
Doutra maneira, porém.
O seu orgulho parece-me, em particular,
Muito mais louco, mas não tão tolo.
Demos, do nosso, um parecer
Que sem dúvida vale
Um outro qualquer:

“Um Rato dos mais pequenos via
Um elefante dos maiores e reproduzia
O andar lento do animal de alto porte,
Que marchava em grande estadão.
Sobre o animal de três andares
Uma sultana de posição,
Com o seu cão,
O seu gato, a sua macaca, o papagaio,
A sua velha, todo o palacete,
Iam em peregrinação,
Causando reverente admiração.
O Rato estranhava que o mundo
Ficasse tão sensibilizado ao ver
Esta massa pesada e imponente:
“Como se, o facto de nesta vida se ocupar
Maior ou menor lugar
Nos tornasse, repetia,
Mais ou menos importantes!
Mas que admirais tanto nele,
Vós, homens pedantes?
Por acaso seria
Este corpo grande, como penedo
Que às crianças mete medo?
Não nos consideremos,
Por muito pequenos que sejamos,
Sequer um grãozinho menos
Que os Elefantes farsantes.”
Poderia ter falado mais.
Mas o gato da sultana,
Descendo da gaiola,
Sub-repticiamente,
Fez-lhe ver, num breve instante,
Que um Rato não é um Elefante."

Isto disse La Fontaine,
Conservador encartado,
- Ou antes, penalizado -
Antes da Revolução,
Que veio provar
Que a igualdade
Era um valor a prezar
Em fraterna liberdade
Como, aliás, já pretendia
O Rato sem cortesia.
E nós, Portugueses,
Grevistas esforçados,
Bem nos podemos gabar
De já ter conquistado
Esse estado.
Coitados!

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