terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Manobras da história, dos históricos

Recebi hoje via e-mail um texto que me parece muito certeiro, e, pedindo licença a quem mo enviou, resolvi transcrevê-lo, pois que se trata de uma lição que já vivemos todos, pelo menos aquando da deposição do pobre do Xá da Pérsia, e que poderemos reconstituir como um retrato do que fomos, do que somos ainda, pelo menos tantos de nós, seres oportunistas, desejosos de alardear sentimentos de solidariedade universal, dentro dos preceitos defendidos por activistas célebres e adoptados pelos diversos cultores das novas bondades que atribuem a terra a quem a trabalha, e concedem direitos a quem não se podia deles gabar, o que era, na realidade, muito mal feito.
À conta desses direitos aparentemente concedidos (e digo aparentemente porque nunca, como hoje, se chegou tão baixo na vileza das disparidades sociais e das destituições de direitos, como seja o direito ao trabalho, atirado às malvas), vários solavancos os povos foram sofrendo, os ódios fertilizaram as terras por conta do amor pelos desamparados, mas subentendendo, na sua maior parte, da parte dos semeadores da nova virtude - ou seja, dos que comandam os destinos, por eleição democrática, pelos pobres crédulos nas patranhas por aqueles semeadas - o amor por si próprios, dirigentes escolhidos, o zelo pelo bem-estar pessoal de si mesmos, indiferentes ao coro de misérias em crescendo, na África mergulhando os próprios nativos em lutas selváticas sem quartel, na Ásia abrindo caminho aos extremismos e fundamentalismos religiosos, com o terrorismo proliferando pelo mundo inteiro, na inveja do poder das nações com poder.
O texto é bem explícito da cobardia dos dirigentes máximos americanos – Carter / Obama – que, em diferentes épocas, resolveram apoiar os movimentos da modernidade, os tais “idiotas úteis”, que vão cada vez mais semeando o caos nas sociedades, e abrindo brechas para infiltração das hordas de populações aterrorizadas, fugidas dos seus terrenos, entregues a novos tiranos ambiciosos, absorvendo alarvemente a doutrina que tão lucrativa se lhes revelou.
Vale a pena lê-lo e meditá-lo, como aviso, pelo menos. Embora inútil, porque ultrapassado. Pelos ventos da história. As consequências saber-se-ão, os novos comilões no Egipto ditarão as regras do seu banquete.
Nós cá vamos assistindo, curiosos, ao banquete dos nossos, que não tem, naturalmente, relevância internacional, neste nosso deserto sem pirâmides. Mas que já teve padrões de Descobrimentos.

«A Pérsia e o Egipto»

“Carter e Obama, 1979 e 2011”
«Em 1979 Jimmy Carter reagiu a um massivo levantamento popular no Irão, com o abandono do Xá, então um aliado chave dos EUA na região. O Xá era uma espécie de déspota esclarecido, com uma agenda de modernização que afrontava as mais arcaicas tradições religiosas muçulmanas e que, à força, como Kemal Ataturk, procurava ocidentalizar o país, por ver nisso uma boa via para trazer a Pérsia para o século XX.
Era um ditador num mundo de ditadores, mas era "o nosso ditador".
Contra o Xá alinhava-se uma estranha aliança de idiotas úteis (socialistas, comunistas e toda a galáxia antiamericana e antisemita) e islamistas. Estiveram juntos nas ruas, a festa era bonita, falava-se de democracia e liberdade.
Como não estar com eles? Como não estar do lado certo da História? Como não comungar do entusiasmo que as narrativas mediáticas veiculam?
E na verdade foram vários os especialistas que convenceram Carter de que se tratava de gente moderada, moderna, amante da liberdade, com a qual se podia estabelecer uma relação civilizada e que salvaguardasse os interesses dos povos.
Khomeini foi descrito como um pragmático no qual se podia confiar. O notório Richard Falk, hoje em dia mais conhecido pelo seu ódio a Israel, escreveu mesmo um artigo de opinião no New York Times, intitulado "Confiar em Khomeini".Khomeini explorou sabiamente essa imagem, tendo avançado com nomes como Barzagan e outros, vistos como pessoas moderadas e racionais.
E Carter alienou prontamente o seu aliado, em troca de um prato de lentilhas de boas esperanças, tendo Khomeini chegado ao poder.
Uma vez instalado, rapidamente fez rolar as cabeças dos "moderados", instalando um regime islâmico que é hoje um dos piores inimigos do Ocidente, e do próprio povo iraniano, promotor de terrorismo e exportador de instabilidade.
Em 2011, Obama enfrenta uma situação arrepiantemente análoga e parece estar a repetir, ponto por ponto , a estratégia desastrosa de Carter.
Mubarak é um ditador, mas é o "nosso ditador". Nem sequer é o pior, no alfobre de ditaduras que é o mundo muçulmano. Na verdade é o principal aliado americano no mundo árabe, tal como era o Irão.
E o que faz Obama quando o seu maior aliado está encostado à parede?
Faz como Carter: aliena-o, e ameaça-o.
Na rua uma coligação de gente bem intencionada, idiotas úteis e islamistas, prepara-se para tomar o poder. Alguns especialistas explicam a Obama que se trata de gente moderada com a qual é possível estabelecer diálogo.
A Irmandade Muçulmana, um movimento tenebroso, que produziu o ideólogo da Al-Qaeda, Al-Zawarii, e centenas de terroristas encartad0s, versão sunita da ideologia revolucionária iraniana, avança a coberto de El Baradei, um "moderado" que, todavia, passou os últimos 10 anos a proteger o programa nuclear iraniano.
Se Mubarak cair e o regime implodir, não é provável que sejam as forças liberalizantes a assenhorear-se do poder, mas sim a bem organizada e poderosa Irmandade Muçulmana que, em surdina, vai chamando a El Baradei e aos "laicos", "burros da revolução", isto é, montadas nas quais se anda para atingir o poder.
Tal como em 1979, uma revoada de "especialistas" assegura que esta Irmandade Muçulmana é moderada e pragmática.
Face à atitude naive da Administração Obama, tudo se conjuga para um desastre em dois acordes: ou Mubarak resiste e não voltará a ver nos americanos um aliado fiável, ou a Irmandade chega ao poder, com consequências dramáticas para o Ocidente.
Em ambos os cenários, a América (e a Europa, by the way, cujos dirigentes têm sido de um espantoso histerismo na "exigência" de que Mubarak caia), deixarão de contar o Egipto como aliado.
E os aliados americanos por esse mundo fora, serão também recordados de que essa aliança de nada lhes serve quando as coisas aquecem.
Obama, tal como Carter, parece sobretudo especialista em escavacar as alianças da América, atacando os que estão do seu lado e apaziguando os inimigos.
Alguém se lembra do modo cauteloso como Obama reagiu às manifestações no Irão, há pouco tempo?»
“POR O-LIDADOR”



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