terça-feira, 18 de janeiro de 2011

“Morrer fica caro”

Foi a minha amiga que o disse, depois de nos transmitirmos notícias de vigarices fúnebres – ou exóticas – ou lusas - relativamente aos funerais realizados pelas funerárias do nosso país a decompor-se. Contei eu primeiro, por ser recente a minha história. “Morrer fica caro”.
Era uma senhora simpática, 82 anos, que sofria do coração, quando o marido morreu ficara toda a noite de vigília, acompanhada da filha e de mais dois familiares, prova de muito amor. Morreu em igual dia de semana do marido, com a mesma idade, era pessoa estimada, teve bastante gente no velório. Menos no funeral, é certo, como é costume. A filha tratou com a Funerária, julgavam todos que as cinzas do corpo cremado iam ser guardadas no pote a enterrar, com uma planta a crescer por cima, com o tempo. Na natureza nada se perde. Pois não foi assim. Souberam-no pouco antes, o agente funerário não explicara. As cinzas foram para o monte de cinzas de outros corpos, vala comum que não extrema individualidades, e que pelo contrário as irmana, definitivamente. Cristãmente, dirão os do exercício fúnebre. Para ter direito às cinzas da pessoa amada, eram necessários mais duzentos euros, não tinham sido avisados, tinham pedido para pagar toda a despesa posteriormente, aquando do recebimento do valor estipulado, pela colaboração estatal. Por isso não foram avisados, que é preciso ser rápido nas despesas com a morte, e as dificuldades familiares não o permitiram. As cinzas ficaram na vala comum do crematório, indistintamente. Mas o que conta é a alma, que está no céu, na afirmação do seu bisneto de oito anos, criança sensível e meiga e que nada entende de cinzas. Foi em Rio de Mouro, Sintra, o certificado, recebido posteriormente, indica que poderiam escolher entre o buraco comum e o pote, mas ninguém os advertiu sobre as condições.
A minha amiga ficou indignada e contou também o caso de uma amiga sua, que tinha pedido o preço mais barato, por proposta do marido antes de morrer. O senhor da funerária estendeu as amostras de caixões e não falou em preços. A senhora informou o que pretendia, ciente de que a escolha estava dentro da sua proposta de preço reduzido, caso contrário o sujeito teria contestado, informando sobre o seu valor real. Quando apresentou a conta exorbitante, o sujeito respondeu tranquilamente à surpresa indignada da senhora: - “A senhora escolheu o mais caro!”
- É preciso muito cuidado, concluiu a minha amiga. Apanham as pessoas numa situação de fragilidade e usam a astúcia e o dolo, para melhor enganarem.
- Afinal, não há diferenças entre os nossos bancários, os funerários, os freeportistas, os argentários, todos eles falsários, todos eles aproveitadores, todos eles encobridores… Todos sem sentimentos nobres. Uma triste história a nossa, a destes últimos tempos. O que virá a seguir, para além do desemprego em ascensão de descontrole, na indiferença de quem manda?

2 comentários:

O Luctuoso disse...

Nem todos os agentes funerários são maus profissionais, como em toda a sociedade existe bons e maus profissionais, boas e más pessoas, referiu que " todos são falsários" acredite que nem todos os são,
Fernando

Por AmaisB disse...

Eu sei. Exageros de saturação.