quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma história de Natal

E digo de Natal
Porque é sentimental.
Dá bons conselhos
A novos e velhos.
Diz-nos que, se há os que comem mais,
É porque a isso foram destinados,
Pelos bons fados,
E porque são leais
Aos mais pequenos,
Os que comem menos.
Assim disse Esopo
Na sua fábula singela

“O burro e a mula”:
«Um burro ia
De companhia
Com uma mula.
Constatando que o fardo dela,
Por injustiça do céu
Era igual ao seu,
Queixou-se o burro de que a mula,
Por receber dupla ração,
Não fosse contemplada,
Com justa razão,
Com uma carga mais pesada
Do que a sua, no longo estirão.
Mas tendo percorrido
Um extenso caminho,
Achando o almocreve
Que o burro ia
Quase esvaído,
Dele pena teve
E passou
Parte da sua carga
Para o dorso da mula farta.
Mais adiante, verificou
O esgotamento
Do burro lazarento
E mais o libertou
Da onerosa carga,
Que colocou
No dorso resistente
Da mula competente.
Até que finalmente
Tudo lançou
Para cima dela
Inclusivamente

O próprio burro quase inerte.
A mula imediatamente
Perguntou:
“- Não achas então
Que eu tenho todo o direito
A uma dupla ração?”
Nós igualmente
Não devemos julgar
Das prerrogativas de cada um
Como princípio, mas sim
Segundo o seu fim.»

É o que nos diz Esopo
Temos que o admirar.
Porque a sua história serve
Para aconselhar
Os que entre nós costumamos
Invejar
E atacar
Os que ganham mais e comem mais
Do que nós, pobres comensais.
Se eles o fazem é porque têm
A obrigação
De nos levar no dorso, com precaução.
Desejosos sempre
De bem conduzir
A sua nação
Assim,
Até ao fim.

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