quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mesmo sem hino

A minha amiga reproduziu a voz do nosso distinto Engenheiro :
- “Metam isto na cabeça, portugueses. Nós não precisamos de ajuda.” Ai, mas a lata daquele gajo!
Concordei. Porque ouço outros, que aparentam ser versados em Economia, a agoirar a entrada breve do auxílio externo para longo pesadelo interno. Só não concordei com aquela do apelativo “portugueses”, mais escutado num general carismático, como fora o general Eanes. A minha amiga continuou:
- Mas há muitas vergonhas apontadas aqui: Esta do aeroporto de Beja, onde já se gastaram muitos milhões e agora vai parar porque faltam muitos mais… Os milionários que já só são multimilionários e têm tudo nos off shores… Se foi dinheiro roubado, nunca se vai saber, porque ninguém tem poderes para saber da história completa. Porque fica pelo caminho. As leis foram feitas por uma metade séria e a outra que faz as leis a favor deles.
Discordei dos quantitativos, o quantitativo da parte séria nem por sombras chegando aos calcanhares do quantitativo da parte não séria, e apressei-me a justificar as minhas asserções recorrendo a figuras com muito mais calibre histórico do que as nossas, e que assim lançaram vetusto lastro de irregularidades penais, exemplificando com a rainha Isabel I da Inglaterra que lixou Maria Stuart ao criar leis para a poder mandar decapitar dentro das normas legais, ainda que recentes.
E foi aqui que, inocentada a nossa Justiça, por via destes meus oportunos conhecimentos históricos, nos lançámos a evocar o hino da Restauração que aprendemos na nossa instrução primária, de par com a respectiva história, e assim homenagearmos aqueles homens sem os quais hoje não poderíamos evocar as figuras sagradas dos cultivadores da língua nacional e outros de idêntico calibre, que nos fazem ainda manter a chama do amor pátrio.
A minha amiga também se lembrava do hino, e assim o cantámos em surdina, na discrição da esplanada deserta, por via do frio que fez hoje, 1º de Dezembro, logo pela manhã arrefecido com uma queda brusca de saraiva, a fazer recear outras quedas bruscas.
Um hino patriótico, tentando manter a chama da exaltação pátria. Mas conviemos que muitos são hoje os prontos a liquidá-la, à chama, mesmo a coberto de boas intenções, de que, dizem os experientes, o Inferno está cheio:
«Hino da Restauração
Lusitanos, é chegado
O dia da redenção
Caem do pulso as algemas
Ressurge livre a Nação.
O Deus de Afonso em Ourique
Dos livres nos deu a lei;
Nossos braços a sustentem
Pela pátria, pelo Rei.
Às armas, às armas,
O ferro empunhar.
A pátria nos chama
Convida a lidar.
Lá lá lá lá lá lá lá
A lidar.»
É urgente uma restauração. Mesmo sem hino.

Nenhum comentário: