quarta-feira, 10 de novembro de 2010

«O que vai ficar são os “acórdos”»

Mostrei a minha indignação a respeito dos “acórdos” de que falou imoderadamente o nosso PM, opinei sobre a visível satisfação que nele provocaram os seus “acórdes” musicais de sintonia com os do PR da China e respectiva esposa – do Presidente, não da China – a quem o povo português de uma localidadezinha lusa onde se vai fabricar mais um “acordo” de o fechado, ofereceu um bule para o chá, que me pareceu piroso – o bule, não o chá - mas não tive tempo de o averiguar, distraída com o ar fechado da madame e do respectivo esposo orientais, talvez apreensivos, talvez arrogantemente depreciativos, mais uma vez falei doutoralmente em metafonia, que faz abrir certos ós plurais, como o de “fógos”, enquanto se mantêm fechados outros, como os de “acôrdos”, lembrei que a moda do “o” aberto em “acordos” pegou mesmo, pois muitos são os ilustríssimos – alguns até advogados da nossa banca ou políticos e jornalistas da nossa praça – que o proferem, sem terem o cuidado de consultar uma gramática que os esclareceria, embora isso não me admire tanto no nosso PM, que, se despreza a sua língua e a sua nação, com provas irrefutáveis, muito mais desprezará a gramática dessa língua, de preferência acedendo ao dicionário, para nele se ilustrar a respeito da deturpação capciosa do pensamento, para uma acção política caprichosamente mistificatória.
Logo a minha amiga, tristemente, concluiu:
- O que vai ficar são os “acórdos”.
Mas continuou, profusamente, sobre os novos habitantes:
- Estes vinte mil que cá estão já fecharam lojas portuguesas aos molhinhos. E não dão trabalho a ninguém. Nós sabemos muito bem como são os chineses. Ficaremos de gatas e de olhos em bico. Os gajos estão em Angola a construir sem empregados angolanos. Não compram uma pá. Tudo os acompanha. Eles trazem tudo, todo o material lá da China. Não é que o chinês não seja um povo trabalhador!
- Isso é
- consegui meter a minha colherada – mas nunca tive confiança no “made in China”, ao contrário do “made in England”, de qualidade sólida.
- As coisas mudaram muito, com a fabricação em série. Mas a louça e as mobílias trabalhadas eram de grande valor e perfeição.
- Nunca gostei. Gosto mais do liso das nossas porcelanas e mobílias. E não confio nas comidas.
Mas a minha amiga não concordou, embora lamente os nossos comerciantes:
- O comércio mais pequeno está nas mãos deles. Cascais está cheio deles.
- Estamos perdidos. Mas será que entre os “acórdos” se conta o reverdecimento dos nossos campos, mesmo com as alfaias vindas da China?
- Não acredito. Eles lá trabalham nos campos, mas cá é no seu comércio.
-De quinquilharia, digo, agoniada.
Mas de facto também já lá comprei, que é mais barato e tem de tudo, desde roupas aos esfregões da louça, de papel de carta aos cortinados e aos chapéus de chuva… Estamos perdidos.

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