terça-feira, 16 de novembro de 2010

Não tem ponta

A minha amiga comentou sobre os titulares – ou seja, os compradores dos nossos títulos de dívida – especialmente em referência ao presidente de Timor-Leste:
- Realmente, quando se vê o seu país tão pobrezinho, e ele a dizer que vai ajudar o seu amigo Sócrates, faz impressão. Como é possível ajudar um país riquito, sendo eles tão pobrezinhos?
Duvidei, como pessoa consciente da crise que vai a caminho do seu clímax, com o avanço do FMI, embora o anúncio do avanço das obras públicas de grande envergadura já no próximo ano, nos deixe a esperança de que afinal não estamos assim tão destituídos de posses:
- Riquito?
- Claro! Nós somos o país com mais carros, com mais telemóveis, com reformas milionárias maiores que as da América…
Uso a severidade:
- Realmente, temos carros em barda, mas de fabricação estrangeira, não criámos marcas. As fábricas cá são de junção de peças, que vêm de fora. Mas as marcas são francesas, italianas, alemãs, americanas, japonesas… E o Volvo, que é sueco.
A minha amiga interrompeu-me as amargas lucubrações provenientes das minhas meditações sobre as nossas transacções, de extremo décalage entre importações e exportações:
- Eu peço já a canonização do Ramos Horta.
- Também não exagere nos pedidos. Para a aura basta-lhe ter sido Nobel da Paz. Ele está a pagar a nossa colaboração aquando dos ardis da Indonésia, que até cantámos uma canção muito bonita, com que os ajudámos a ganhar a independência: “É Timor”, além dos peditórios para os trocos. Como falhou a sua proposta para que Durão Barroso fosse Nobel da Paz, no ano seguinte ao prémio dele e do D. Ximenes, que estas coisas de prémios dão logo direito a primos, estendeu agora a mão protectora a Sócrates, que anda nas suas águas a pedir reforços, não sei se por conta do petróleo que parece que têm… Coitado do Sócrates! Ter que pedir reforços tão a leste! Será que Sócrates anda a cobrar, por conta dos nossos peditórios de há uns anos para a independência timorense?
- Não, é mesmo por amor à navegação, que nos está na massa do sangue. Navegação e maquinação. Mas olha lá o outro que me deixou espantadinha, o seu amigo bem vestido, o dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado… O que é que lhe deu? Sentiu vergonha lá fora e achou-se perdido? Um governo de salvação! Isso foi o mesmo que dizer que isto não tem ponta por onde se pegue
!
A minha amiga às vezes excede-se. Que ao nosso Primeiro não faltam nunca recursos, só vergonha. Sempre.

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