segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Felizmente não temos morro

Falámos em escândalo, como cenas do nosso genérico ambiental:
- O que é que não é escândalo? Veja! As cenas miseráveis no Rio de Janeiro! Eles mostraram a fortaleza de criminosos e traficantes. Vivem como milionários. Têm tudo dentro do morro, os tais bandidos! Apanharam vinte e eles são seiscentos.
- Só? –
pergunto, mansamente.
- O governo está a gastar milhões, a prometer acabar depressa. Espera aí que aquela guerra vai mesmo acabar! São ladrões, são assassinos, olha a força daquela raça…
- Autênticos “bin ladens”
, consegui articular, mas a minha amiga prosseguiu:
- E a nossa anedota dos blindados na cimeira da Nato?! Não fazem falta nenhuma, porque felizmente não temos morro. Mas alguém estava à espera que os terroristas viessem aí? Bastou o treino dos polícias para o caso do Obama ser molestado, não eram precisos blindados.
- Pois! Além disso o Obama trouxe os seus guardas, teve sempre as costas quentes.
- Ai meu Deus! Não há vergonha!
- Pois não! Não havia dinheiro à vista para pagar os blindados das nossas megalomanias. Foi humilhante. Mas dá para um fado, ao jeito do Frederico de Freitas, mesmo sem a voz da Amália:

Blindado! Torturado!
Tão magoado!
Quem te fez, blindado?
Não sei quem foi!
Só sei
Que não vieste e chorei
Mas que por ti esperarei
Para defenderes quem cá vem.
Só sei
Que é um sonho bem risonho
Que um dia hás-de chegar
E eu vivo e sonho a esperar.

- Ora! Para quê? Não temos morro!
- Sim, mas há sempre por aqui uns esconderijos, uns bairros esquisitos, que andamos a tentar destruir, mas que renascem das cinzas, como a Fénix. E vive gente nesses antros, com bons carros à porta, como nos morros. Nunca se sabe onde se pode chegar, mesmo sem morro.
- Mesmo assim, acho que os nossos escândalos são outros.

A minha amiga está pelos cabelos.
(Continua)

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