quinta-feira, 16 de setembro de 2010

“Isto é ditadura”

Contei à minha amiga uma história recente, de alguém em busca aflitiva de emprego, que fez a sua entrevista, começou o seu trabalho, depois de ter sido aceite, de ter preenchido os papéis necessários, depois de estar duas semanas a trabalhar e a esforçar-se bem, dando-se bem com as pessoas, disponível para prolongar o seu tempo de trabalho, sempre que requisitado… Na véspera assinou os papéis do contrato, no dia seguinte foi despedido por uma outra empregadora que não tinha ainda aparecido na história. Não percebeu porquê, a desculpa foi de um engano de dez euros na caixa, não se sabe se real se fictício. A minha amiga considerou:
- Os despedimentos que se fazem agora, sem explicação nenhuma! E ninguém se atreva a perguntar! Isto é ditadura. Antigamente, mesmo com razão, o despedimento não podia ser de qualquer maneira. Agora pode. O lápis azul voltou. A Manuela Moura Guedes e o Moniz perderam os seus empregos porquê? Esses também se podem queixar de ditadura. Ele começou a acusar demais. Essa história de haver liberdade acabou. Não há. Já não há. Alguém que se atreva a dizer mal! Essa história até custa a crer! Como é que se pode fazer isso?
- Não, ditadura é um regime com significado histórico, em que se condenam ideologias refractárias ao sistema. Aqui não se trata disso, trata-se de uma brincadeira de indivíduos armados das suas falsas superioridades de empregadores, geralmente sem categoria mental,
para brincar com os que eles consideram inferiores, porque estes estão na posição de necessitados de trabalho. Há outros casos, razões de vingança, razões de inveja, as ciganas devem esclarecer. A arbitrariedade aqui faz lei, ela nos dirige, o medo instalou-se. É certo que as ditaduras, hitleriana, stalinesca, de Ceausescu, dos ditadores africanos, de ditadores sul-americanos, chineses, etc., foram e são horrendas, sem sentido, de uma perversidade medonha, inverosímil, equiparável aos atentados da natureza cega, nos seus furacões, nos seus tsunamis, nas suas precipitações arrasadores, que não respeitam nada nem ninguém do “pobre bicho da Terra”. Mas impostas por chefes, mantinham a nobreza de uma monstruosidade proveniente dos cabecilhas, dos governantes, dos que detinham ou detêm o poder, que eles julgam sagrado, sobre os outros homens, como no tempo dos Tibérios. Hoje, trata-se de uma rede, com muitos nódulos – os mandantes de vária ordem – cujos débeis fios que os interligam deverão esforçar-se por se manter firmes, e aceitar prepotências sem rebeldia, caso contrário, afundam. Embora, como no caso da aranha e da sua teia, outro filamento cubra depressa a ruptura. Uma rede forte, muito cobarde e muito mesquinha, que não dá azo a independências, nem a desobediências, excepto nas escolas, para os alunos, onde reina a liberdade da indisciplina, sofismadamente, para uma vida posterior em que tal desvairamento educacional passará à história, mas só nessa altura os meninos o saberão. Ser-se livre? Mas como, se o medo impera? Democracia, sim, que o povoléu das chefias é quem manda, após o esforço domador meritório do chefe supremo.

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