quarta-feira, 21 de julho de 2010

Oração das trovoadas

De repente, ouço a minha Mãe entregue aos seus devaneios evocativos:

S. Gregório se levantou
E o sapatinho calçou
Nossa Senhora o encontrou
E lhe perguntou:
-P’ra onde vais tu, S. Gregório?
- Vou derrubar estas trovoadas
Que por cima de nós andam armadas.
- Então derruba-as bem derrubadinhas
Lá p'ra Castro Marim,
P’ra onde não haja pão nem vinho,
Nem leira nem beira,
Nem raminho de figueira
Nem pedra de sal
Nem coisa que faça mal.

- Maio era o mês das trovoadas. Agora não troveja. Porque será? Tínhamos muito medo e as cabras também, vinham para junto de nós.
E a minha Mãe chora, lembrando as cabrinhas assustadas, correndo para junto das guardadoras dos rebanhos.
- Agora já não há primavera!
- O clima está muito diferente do da nossa infância! - é a minha irmã que confirma.
Mas eu julgo que as trovoadas mudaram de poiso, não sei se por artes mágicas do S. Gregório. E mudaram de carisma, que as de agora não deixam de ser assustadoras. Recordo os comentários da minha amiga, há alguns dias, quando falávamos do nosso caos:
- A droga é culpada. A droga estragou o mundo. Se tivesse aparecido em determinados países! Mas não, ela apareceu no mundo. Essa é o principal factor...
- Até da corrupção das mentes, sugiro.
- Mas a droga ajuda a isso tudo. Quando se diz: “Não tem nada lá dentro”, os traficantes, os que produzem, depois os outros que a consomem, não servem para nada nem para ninguém. Em Quelimane conheci alguns. Mas foi há trinta e cinco anos que ela se expandiu pelo mundo, Europa, países do Oriente... E assim se vão destruindo gerações. É esse o drama do mundo. Armas, guerra, terrorismo, tudo horrível! Mas o que leva a isto é a droga. É preciso dinheiro. E o dinheiro vai-se buscar aí.
Lembrei o petróleo, como factor de guerra, mas relacionou-o também com a droga.
- Agora, falando em dinheiro: a Céu anda preocupada com o dinheiro que o marido tem num banco. Há algum banco seguro? Já se anda a falar muito em bancos. Quatro bancos a caminhar para a falência! Agora o que é que acontece a um país onde os bancos vão à falência?
- Rezemos a S. Gregório, para que ele calce o sapatinho e vá derrubar as trovoadas de agora, como derrubava as de outrora, com o apoio de Nossa Senhora, mandando-as para onde não haja as coisas essenciais à vida – pão, vinho, sal...
Mas acho que antigamente era mais fácil, não só porque havia o apoio voluntário e gratuito de Nossa Senhora, mas porque as coisas essenciais à vida eram muito diferentes das de hoje.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gosto do texto mas é um bocado grande para quem não gosta muito de ler
É só, para a próxima tenta resumir melhor o teu texto.

Obrigado, atenciosamente Daniel Nunes