domingo, 16 de novembro de 2008

avaliação na união

Escutei, com a devida atenção e respeito, a reportagem feita por uma companheira de trabalho de José R. dos Santos e em colaboração com este, sobre os sistemas de avaliação em alguns países da U.E.
Fiquei contente, porque vi que o nosso sistema é, de todos, o mais profuso em dados avaliadores. O finlandês, então – parece que era esse – é coisa que eles nem têm, avaliação. Fundamenta-se o critério deles, num ponto de vista bastante primário, parece-me, que deve partir duma qualquer fé nas competências de todos os ensinantes, os quais já deram provas suficientes como aprendentes. Entre as quais provas se conta, provavelmente, a confiança na honorabilidade de cada um, e no rigor de exigência a que estão habituados desde pequeninos, lá na Finlândia – exigência em comportamento, exigência em aplicação.
Nós não somos tão rigorosos, houve mesmo muita permissividade – laxismo, fraude – e agora chegou a hora dos castigos: pagam todos pelos erros passados, que muitos houve. Assiduidade, competência, pontualidade, muitas vezes foram letra morta, eu sei.
Por isso é bom que paguem os inocentes pelos pecadores.
É preciso, pois, apoiar o Primeiro Ministro que diz que também é avaliado, coitado, embora não mostre as suas fichas de avaliação.
É preciso apoiar a Ministra da Educação, embora também ela não mostre, coitada.
É certo que nem um nem outro escutam o que todos lhes dizem – que os avaliadores foram escolhidos com critérios arbitrários, e que a grande reforma que se está a fazer –que parece mergulhar, embora eles também não o digam, em questões de economia à custa do sangue de vítimas inesperadas – a grande reforma, repito, terá consequências funestas sobre as competências dos jovens que um dia hão-de levar por diante este país.
Embora haja professores que defendem muito bem pontos de vista mais inteligentes, como ouvi ontem na manifestação em frente a São Bento. O meu bem-haja a estes. Apesar dos Ministros.

O espírito de Manuela Ferreira Leite

Extraordinária a reacção, neste nosso país de sol e de touradas, a uma frase de Manuela Ferreira Leite sobre a dificuldade de impor reformas em democracia, alvitrando, em seguida, e com vivo gesto de mãos afunilante, sobre a necessidade de se impor ditadura por seis meses para as reformas que depois, feitas estas, poderíamos já continuar em democracia libertária e “reformada”.
A nossa gargalhada ao ouvi-la foi imediata, e resultou do prazer de escutar uma afirmação feita em voz suave mas cheia de intenção sardónica, como que pedindo desculpa da garotice. Bravo, Drª Manuela, estávamos a precisar dela, na angústia em que vivemos a contemplar o progressivo deslizar pelo despenhadeiro das actuais políticas, e assim nos despenhando também, a perspectivar tragédias futuras de irracional perda de identidade e valores nacionais...
Julgámos que a glória do dito irónico viesse coroar a bela cabeça da dirigente partidária, mas no país de sol e de touradas, a reacção imediata levou o dito a sério, e desancaram-na. PS, PSD, e não sei se mais alguns, rivalizaram nas bordoadas.
Esperamos que Manuela Ferreira Leite se não aflija com as picadas. E não acredite nesses dizeres de inconveniente falta de graça. Os que a entenderam e sentiram como intencional para eles, refutaram-na em auto-defesa. Os que talvez a não tivessem entendido – a subtileza não é para todos, hélas! – superlativaram-na em grotescas exibições de seriedade manhosa, sem importância de maior.
Continue, Drª Manuela, a defender os seus pontos de vista com a seriedade honesta que lhe conhecemos, ou com a graça ligeira que gostámos de conhecer. E não acredite no que alguns dizem, que não sabe fazer humor. Isso seria negar o humor sério do Jacques Tati, no “Mon Oncle”, ou as façanhas, fonte de riso eterno, do circunspecto D. Quixote...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Os Seniores

A Ministra da Educação disse, nas entrevistas que deu, no sábado da manifestação, que a titularidade dos professores, segundo a reforma, fora bem entregue aos professores seniores que são, pela idade e experiência, os mais competentes para avaliar os professores juniores. Mas a Srª Ministra não disse a verdade e não houve quem desfizesse a afirmação falsa e melifluamente transmitida, que nenhum entrevistador rebateu. Também ela não deixou, que não está ali para ouvir mas para ditar a sua própria lição, há muito decorada e sempre igual.
De facto, não só têm vindo a lume casos que não se enquadram nesses dizeres falsos, com os “mais” juniores a tomar o lugar dos “mais” seniores, como não é sempre verdadeira a competência trazida pela idade e a Srª Ministra sabe-o bem, que todo este processo de avaliação foi intencionalmente cozinhado para liquidar classificações, tempo de serviço, etc, àqueles dos seniores, por bons que fossem, em assiduidade, pontualidade, empenhamento, mas que limitaram as suas carreiras à sua docência em função dos seus discentes.
A Sª Ministra sabe que neste país os seniores depressa ficam nas prateleiras, ultrapassados por avalanchas dos juniores – sejam actores, cantores, servidores de qualquer função.
Por isso os professores, para continuarem nas suas carreiras, com bom aproveitamento, terão que dispender longas horas das suas vidas diárias mergulhados em burocracias, reuniões e papeladas em torno da avaliação – deles e dos seus alunos.
Que também há que prestar contas dos sucessos escolares junto da U.E. Mesmo com artifícios manhosos, que assim se descobriu a panaceia do insucesso, para orgulho da Srª Ministra, que tem que apresentar os números, ainda que forjados a trouxe-mouxe. O que é certo é que este processo de avaliação deixa pouco tempo para o estudo, mas a Srª Ministra da Educação nem se rala. Até refere com prazer o sacrifício dos professores deste país, no “processo” que alguns acham “kafkiano”, embora com as mãos postas, bem à nossa maneira.